segunda-feira, outubro 15, 2012

" Meu amor, já nem sei porque te chamo assim… talvez pelo romantismo que dá ao meu texto.
Hoje descobri que não tenho nada para te perdoar, não tenho nada para me perdoar a mim própria.


Não houve gestos bons, gestos maus…não houve gestos! Houve países, houve cidades, houve terra.
É aí que te guardo, enterro-te pelo mundo, por onde nem sequer fomos juntos.

Não me soubeste dar as palavras que te sonhei, as que rezei por ti, as que te dei com o corpo da maneira mais sincera que soube. As que te escrevi… que fotografei… que te desenhei em papelinhos, as que se queriam dar sem saber como.

Fomos apenas lugares… fomos apenas espaço…

Hoje pensei, no meio da nostalgia ilusória que construi sozinha, dizer-te que foste parvo, que te quero bem, mas a verdade… é que já não te quero. De tanto não me quereres estragaste-me!

Deixaste-me ir embora com o peso atordoante de tudo o que ainda tinha para te dar, mas de alguma maneira acabei por ficar mais leve.

Sei que estás bem, era isto que querias. Até já tens companhia.

Não te venho criticar, venho-te agradecer, isso liberta-me, parte-me as correntes, adormece-me os nervos, abre-me as portas pequeninas das gaiolas onde ia guardando o meu amor por ti, para que não voasse…

Estava sempre tanto frio ao teu lado, fazias-te todo o inverno quando me vias. Até o tempo se fartou do drama que inventaste que era eu ser tua. Até ele se cansou da ausência de vida e felicidade nas tuas mãos e nos teus olhos descaídos.

Mas no outro dia veio buscar-me e sussurrou-me ao ouvido, vem… vem comigo… que há sol longe daqui, e pelo caminho foi-me despindo a roupa de que precisei para ficar ao pé de ti…"

                                                                  Texto de Lara Franco

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